Educar cidadãos globais competentes

Por Sônia M. V. Magalhães. Ph.D.
Sep 9th, 2016

Em primeiro lugar, quero destacar que educar cidadãos globais competentes é uma desafiadora tarefa que se apresenta às escolas Jesuítas pelo mundo afora como um imperativo, não mais como uma opção. Trata-se de responder de maneira eficaz aos desafios dos tempos atuais, de cumprir o mandato de serviço da fé que promove a justiça e, ao mesmo tempo, de resgatar ou revelar um traço de identidade da Companhia de Jesus. Sobre o primeiro, muito já foi dito e muito está em evidência: a globalização afeta o planeta de diferentes formas e, muitas vezes, gera mais perdas que ganhos para os povos, especialmente as sociedades mais empobrecidas. Investir-se da responsabilidade de educar cidadãos globais competentes exigirá, antes de mais nada, uma compreensão dos efeitos desse fenômeno e a busca de caminhos para tirar o melhor proveito do que está posto e tocar o coração dos nossos estudantes para que sejam suficientemente conscientes, competentes, compassivos e comprometidos com a busca de caminhos diferentes para o fenômeno da globalização. Nada disso ocorre sem vontade política e investimento em processos de renovação. Sobre o segundo aspecto mencionado, desde os primórdios, a decisão de espalhar-se pelo mundo, inserindo-se em diferentes culturas e nelas e a partir delas evangelizar foi uma marca distintiva do modo como os primeiros companheiros quiseram participar da missão da Igreja.

Se quisermos sair do lugar da mera denúncia, necessária, porém insuficiente, temos que formar jovens com uma visão diferente de mundo e para isso precisamos esclarecer o que entendemos por competência. Mais que palavras isoladas, entendo que os quatro “cês” pelo qual resumimos nossa missão – excelência na educação de pessoas conscientes, competentes, compassivas e comprometidas – nos dão uma pista importante para superar a associação de competência ao êxito ou sucesso individual dos jovens que passam pelas escolas Jesuítas. Nessa nova perspectiva, êxito e sucesso passam a ser conceitos coletivos: precisamos ser bem-sucedidos como sociedade, como comunidades escolares, não apenas como indivíduos. Não há competência sem consciência, compaixão e compromisso. O mesmo é válido para os outros três cês. Isoladamente, nenhum deles revela o verdadeiro sentido da formação integral que afirmamos ser parte do nosso diferencial.

Escolas que educam seus alunos com senso e experiência de cidadania global, necessariamente são desafiadas a migrar da visão local para a visão global e isso implica estudantes e educadores. Formar cidadãos globais não se limita a formar alunos proficientes em diferentes línguas. Isso talvez ajude, mas seguramente não reponde ao desafio que está posto. Trata-se de expor os estudantes a experiências transculturais que lhes permitam aprender a apreciar e respeitar diferentes modos de vida, manifestações culturais, organizações sociais, etc. Trata-se de deixar que temas globais façam parte dos currículos escolares, como informação e como experiência. Talvez o primeiro passo seja ajudar os estudantes a reconhecer, apreciar e respeitar as diferenças existentes em seu ambiente mais próximo. Quanta gente se sente estrangeiro na própria terra? Quantos de nossos alunos se sentem alijados porque nossas escolas trabalham com códigos culturais hegemônicos? Desafiemo-nos a guiar os estudantes pela aventura de conhecer a largueza do mundo e a riqueza da tão diversa humanidade!

Ficará sempre a pergunta sobre a condição dos educadores para guiar tal processo: sem dúvida, precisamos ser nós mesmos, pessoas com experiências nesta linha, ou pelo menos com o desejo de fazer tais experiências.

As escolas Jesuítas mundo afora estão nas melhores condições para assumir esta tarefa. Somos uma enorme rede educacional, presente em todos os continentes, com imensa diversidade de recursos de toda ordem. Trabalhemos juntos para que possamos ser uma rede global, efetivamente!

Sônia M. V. Magalhães. Ph.D.

São Paulo, Brasil