Os meus alunos reflectem parte 3 – Instituto Nun’Alvres, Colégio das Caldinhas, Portugal

By Raquel Costa
Jun 3rd, 2020

As seguintes reflexões estudantis foram apresentadas pelos meus alunos como parte do Projecto Globais Histórias de Estudantes: Um Dia na Minha Vida: Viver sob a Pandemia da Covid-19. Os meus alunos estão ansiosos por ler as reflexões dos seus colegas de outras escolas jesuítas de todo o mundo.

 

Um dia na minha vida: Nuno, 16, Instituto Nun’Alvres, Colégio das Caldinhas, Portugal

Devido a uma nova doença chamada COVID-19, a maioria da população mundial esta sujeita a isolamento social, que consiste em permanecer em casa, durante um certo período de tempo.

Este isolamento social irá trazer, isto é já trouxe, inúmeros problemas para a sociedade e para a economia do país, tais como problemas económicos e um elevado número de mortes.

Contudo, nem tudo é mau, e gosto de ver o lado positivo das coisas. Com este tempo imenso de isolamento social, sinto que me consegui aproximar mais dos meus familiares, e passo muito mais tempo com eles, e que consequentemente, desabafo mais sobre tudo, e sinto-me melhor com isso. Mais importante ainda, para o mundo em geral, os níveis de poluição diminuíram imenso, o que fez com que o efeito estufa reduzisse, e os mares ficassem menos poluídos, por exemplo, em Veneza, quando se deu o inicio do isolamento social, o fundo dos rios voltou a ser visto pelos humanos, o que antes era impossível devido a poluição.

Com esta crise que nos afetou a todos, penso que a sociedade vai começar finalmente a ganhar “modos” e a ser mais civilizada, e falo mais em particular do caso de Portugal. e mais importante ainda a ganhar mais hábitos de higiene.

 

Um dia na minha vida: Marina, 16, Instituto Nun’Alvres, Colégio das Caldinhas, Portugal

Mais uma semana se passou

Atrás das grades do desespero

Sinto-me real neste sonho

Apenas pelo passado eu espero.

 

Agora damos mais valor ao tempo

Damos valor aos outros e a Deus

Agora sei, que nem sempre

O dinheiro me livra dos erros meus.

 

Desculpa-nos Deus

Por sermos egoístas

E não sabermos o que fazemos.

 

Pois ao seguir os passos teus

Tornámo-nos consumistas

 

Um dia na minha vida: Miguel, 16, Instituto Nun’Alvres, Colégio das Caldinhas, Portugal

Seguramente ter de estar de quarentena tem sido uma experiência nova, algo diferente pela qual nunca tínhamos passado.

Com toda a certeza a quarentena tem deixado um forte impacto em mim, em todos, no nosso país e no nosso planeta.

Durante este isolamento tive a oportunidade de rever as minhas amizades e dar mais valor a pequenos gestos de pessoas que se preocupam comigo. Um abraço, um conselho, uma palavra de consolo, ações e valores que nos dias de hoje são muito mais valiosas.

Permitiu-me também refletir sobre a situação em que vivemos e chegar à conclusão que o mundo tinha de parar. Precisávamos todos de respirar fundo e tomar decisões acertadas sobre o nosso futuro, não podemos continuar a gastar os nossos recursos tão rapidamente, não podemos menosprezar os outros e permitir que a ganância governe as nossas vidas. Temos de aproveitar este tempo em que o nosso impacto no nosso planeta é menor, para criar medidas amigas do ambiente para serem aplicadas aquando do regresso à normalidade.

Apesar de algumas liberdades nos serem privadas, deveremos ter em vista que estamos a ser agentes e construtores de um futuro melhor.

Com isso deixarei um poema de Miguel Torga sobre a liberdade.

Conquista

Livre não sou, que nem a própria vida

Mo consente.

Mas a minha aguerrida

Teimosia

É quebrar dia a dia

Um grilhão da corrente.

Livre não sou, mas quero a liberdade.

Trago-a dentro de mim como um destino.

E vão lá desdizer o sonho do menino

Que se afogou e flutua

Entre nenúfares de serenidade

Depois de ter a lua!

Miguel Torga, in “Cântico do Homem”

 

Um dia na minha vida: Ariana, 15, Instituto Nun’Alvres, Colégio das Caldinhas, Portugal

Como muitos pensam, estamos todos a viver “em cativeiro” e a nossa liberdade está a ser limitada. Na minha opinião, em nada tenho sentido que estou presa em casa ou impossibilitada de me divertir com amigos, e sim, eu estou a cumprir o isolamento social.

Devido a esta pandemia, contactei com pessoas que achava que nem sabiam o meu nome. No entanto, revelaram-se amizades muito fortes, apenas esquecidas e, por isso, vejo-os mais agora do que se este isolamento nunca tivesse acontecido… Além disso, para não acumular saudades, falo com os meus amigos mais próximos por videochamada e é apenas nestes casos que agradeço o avanço da tecnologia ter sido tão rápido.

Em suma, sabemos que este vírus já contaminou demasiados países e que a sua cura ainda não está ao nosso alcance. Por essa razão, gostava de informar aquelas pessoas que dizem que a sua liberdade, um direito universal, lhes está a ser restringida que, quando saem de casa com a possibilidade de ficarem contaminadas e isso acontecer, estes indivíduos infetando outras pessoas por quem passam estarão a privá-las da sua liberdade. Assim, não cumprindo o isolamento social, tudo isto se transforma num ciclo vicioso que é fácil de evitar.

 

Um dia na minha vida: Rita, 15, Instituto Nun’Alvres, Colégio das Caldinhas, Portugal

Desde que o isolamento social começou, tenho pensado algumas vezes em como serão as interações entre humanos depois deste problema passar. Em geral, idealizei três cenários possíveis.

O primeiro consiste em não haver muitas diferenças entre o modo como interagíamos antes. A segunda hipótese, a que menos gosto, é aquela em que todos passam a agir menos à vontade em frente de conhecidos e amigos de longa data, talvez porque se perderam as capacidades de comunicação depois de tanto isolamento ou talvez porque todos estejam desconfiados e meio receosos de voltar ao normal. Por fim, o último cenário, consiste em interações muito mais agradáveis e muito mais felizes que antes, simplesmente por causa das saudades e por todos termos aprendido a não termos como garantido algo tão básico como contacto humano. Esta última hipótese é sem dúvida a minha favorita e talvez a mais provável de acontecer. Um cenário onde tudo tem mais valor, pois afinal, não é novidade para ninguém que o esforço que todos nós teremos de fazer para que tudo volte ao que era será grande, enorme até.

Economias foram gravemente afetadas e por consequência, também a vida de muitas famílias. E, devido a esse esforço que todos teremos de fazer para compensar os efeitos desta crise, acredito que acabemos por valorizar muito mais a nossa vida simples e mundana. Para além do mais, teremos muito mais cuidado com a saúde pública, para que situações como estas possam ser evitadas. Ou pelo menos, isto é o que eu espero que todos aprendamos com esta pandemia.

 

Um dia na minha vida: Daniela, 16, Instituto Nun’Alvres, Colégio das Caldinhas, Portugal

Esta pandemia mundial teve inúmeras consequências incontornáveis, mas na minha opinião nem todas foram más. Será sempre impossível esquecer a queda que sofreu o setor económico devido ao isolamento social e a saúde social. Apesar disso tudo, consigo realçar pontos positivos no meio desta situação tão triste.

Devido a este isolamento social apercebi-me que todos dependemos dos outros tanto a nível económico como da saúde, vivemos de forma dependente e basta uma pessoa quebrar esta ‘cadeia’ para acontecer algo com os outros. Também aprendi a ser uma pessoa mais autónoma, a organizar o meu tempo e estudo, a ser produtiva. Descobri uma nova parte de mim a que precisava de dedicar mais tempo.

Quanto ao futuro que nos espera não sei dizer muito, aprendi que as previsões que temos nunca são certas, mas acho que toda a gente vai mudar os seus hábitos. As pessoas vão começar a ter muitos mais cuidados higiénicos, e o mais importante, vão começar a valorizar mais os momentos e as pessoas, pois estes podem não acontecer tão cedo ou mesmo não acontecerem novamente.

Acho que a principal coisa que a sociedade vai aprender é a valorizar as pequenas coisas, porque de um momento para o outro podemos deixar de as ter. Coisas que antes eram banais como ir para à escola, ir trabalhar, ir a um centro comercial, vão começar a ter o seu valor, porque afinal nem as coisas para nós são aborrecidas de fazer e que considerámos garantidas estão sempre disponíveis.

 

Um dia na minha vida: Fernando, 16, Instituto Nun’Alvres, Colégio das Caldinhas, Portugal

Olá, desta vez irei refletir sobre quais os impactos do isolamento social que ainda se faz viver em diversos países, incluindo aqui em Portugal.

Claramente que esta medida de contenção da população é extremamente importante, é graças a este tipo de medidas que foi possível conter o avanço deste vírus que tem andado a mudar as nossas vidas. Porém, o isolamento social traz diversos impactos positivos e também negativos.

Ao falar dos impactos negativos, temos sempre de pensar à cerca do impacto na economia que esta medida provoca, várias pessoas vêm-se obrigadas a deixar de trabalhar de maneira a que possam proteger aqueles de quem mais gostam e até aqueles que nem se quer conhecem. Muitos países podem acabar por ficar numa situação de crise financeira devido a esta paragem completa dos seus países, mas na minha opinião é um risco que vale a pena correr de maneira a que possamos garantir a sobrevivência daqueles de quem gostamos e até uma pequena ajuda aos profissionais que estão na linha da frente de combate a esta pandemia.

Contudo, o isolamento social também pode melhorar a vida de pessoas individualmente e de famílias. As famílias conseguem melhorar as suas relações umas com as outras e conhecer melhor como é passado o dia a dia destes, por exemplo as crianças que percebem melhor como é um dia de trabalho dos seus pais. Para além disso, com este isolamento passamos a valorizar coisas que antes considerávamos como garantidas.

 

Um dia na minha vida: Gabriela, 16, Instituto Nun’Alvres, Colégio das Caldinhas, Portugal

Acredito que o impacto deste isolamento está direta e principalmente relacionado com a economia do país. Por mais rica que uma nação seja, todos temos a perfeita noção de que este período de quarentena afetou todos os postos de trabalho e limitou quaisquer lucros.

Numa vertente mais pessoal, acredito que de certo modo, afetou a forma como vemos as coisas à nossa volta. O simples facto de estarmos confinados a um mesmo local, e às mesmas pessoas, faz nos pensar sobre tudo o resto…

Pode parecer um pouco estranho para alguns, mas acima de tudo esta pandemia fez me pensar sobre a quantidade de pessoas que faleceram sem conhecer Jesus. É triste refletir que em certos países, como o país em que tudo isto começou, na China, as pessoas são perseguidas por praticarem o cristianismo. Em muitos países, a bíblia é um tabu censurado, no entanto, a mesma pode dar a vida eterna! É neste sentido que digo isto: tanta gente morreu, sem aceitar Jesus como salvador; tanta gente que não se salvou!

Quanto ao futuro que nos espera, acho que de certo modo esta pandemia me intimidou um pouco, fazendo me recear o que ainda pode estar para vir.

Acho que a nossa sociedade deve essencialmente dar valor aquilo que tem, quer seja uma bíblia, uma família, uma casa, comida na mesa ou saúde. Temos aprendido que nada nos está assegurado. Tudo está nas mãos de alguém que apesar de nos amar incondicionalmente, está no controle de tudo e tem os seus planos para nós (embora nem sempre os consigamos compreender).

Bem, por hoje é tudo!